terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Globo Filmes entrevista Mayana Moura

Integrante do elenco da novela “Guerra dos Sexos”, em que vive a oportunista Veruska Brandão, Mayana Moura poderá ser vista este ano na pele de outra mulher polêmica: a bela, sofisticada e sombria Luzia, de “O Tempo e o Vento”. Adaptação para cinema de “O Continente”, primeiro livro da clássica trilogia de Érico Veríssimo, o filme narra a saga da família Terra Cambará e tem como pano de fundo a história do Rio Grande do Sul. Nesta entrevista, a atriz carioca diz o que a encanta na personagem, sua predileta na literatura brasileira, explica que compreende seu fascínio pela morte por já ter sido gótica e diz que queria ser gaúcha. “O Tempo e o Vento” tem coprodução da Globo Filmes.

A Luzia é uma personagem especialmente controversa e misteriosa. Que leitura você fez dela?
 
A faceta mais interessante da Luzia para mim é a relação de atração e repulsa que ela tem com a morte. Acho que justamente por temê-la tanto ela procura entendê-la melhor. Fui gótica e compreendo bem isso, bem como sua natureza impetuosa. Muitos góticos sentem isso. Ela era gótica em 1850. Em um diálogo com o Dr. Winter, ela diz acreditar que ser bom ou mau é uma questão de ter mais ou menos coragem e, depois, ele conclui que, de fato, ser bom é fácil; difícil é expressar os sentimentos ruins. A Luzia tinha a coragem de ser cruel, de ser diferente, e pagou um preço alto por isso. Já a maior fragilidade dela é o fato de ter sido adotada, de ser uma órfã.



(Ex-gótica, atriz interpreta a bela e sombria Luzia, mulher fascinada pela morte, em O Tempo e o Vento.)

 
No que consistiu a preparação para o papel?
 
A preparação foi justamente reler e muito “O Continente” e entender melhor essa mulher, o que não foi muito difícil para mim. Ela já era minha personagem favorita da literatura brasileira - imagina como fiquei feliz e comprometida ao interpretá-la – e o texto é muito rico em detalhes. Fui atrás do mito da Teiniaguá*, que revela em parte a natureza dela. Além disso, me inspirei em “Psicologia de um Vencido”, poema de Augusto dos Anjos.
 


*Conhecido na região dos pampas, o mito narra a história de uma princesa moura transformada em um ser com corpo de salamandra e um rubi no lugar da cabeça, a Teiniaguá. Sua relação com um sacristão estaria na origem da ascendência indígeno-ibérica do povo gaúcho.  

É também uma mulher muito sofisticada para aquele ambiente de Santa Fé.
 
Ela se metia nas conversas de homens cultos sobre política, filosofia e literatura, e os olhava nos olhos numa época em que as mulheres baixavam a cabeça diante de um homem. Era forte, corajosa, culta e linda. Vestia-se muito bem, era rica e tocava cítara. Uma verdadeira rock star em 1850. Pro povo de Santa Fé, era uma estrangeira em todos os sentidos; estranha e diferente de todas as mulheres. Despertava ao mesmo tempo medo e um fascínio magnético em todos. Ninguém tirava os olhos dela, que olhava pra tudo com um olhar gelado de estátua. 

  



No livro, a relação da Luzia com o marido Bolívar e a sogra Bibiana é muito tensa e conflituosa. Houve alguma cena forte que tenha exigido mais de você e dos atores com os quais você contracenou?
 
Houve sim. Uma cena em que Luzia volta de Porto Alegre, cidade que estava tomada pela peste, e Bibiana não a deixa ver seu filho, Licurgo, com medo de ela estar contaminada e passar a doença para o menino. Luzia fica furiosa com a sogra e apanha, pela primeira e única vez, de seu marido, Bolívar. Foi uma cena difícil. Por conta disso, Bolívar vai de encontro à morte pouco tempo depois. Ele não aguentava mais ficar entre a mãe dominadora e a esposa provocadora.

 

  
Você é cantora e compositora, ou seja, tem uma veia musical assim como a personagem, que toca cítara. Você precisou tocar o instrumento em alguma cena? 
 
Tive sim algumas aulas para aprender a tocar cítara. Foi demais! Que instrumento lindo! Difícil, mas lindo! Gostei do desafio. Cheguei a aprender uma única música, que toco no filme. Sei  tocar violão e guitarra. 


Como foi a experiência de gravar no Sul? Estar lá te ajudou a mergulhar no universo de Santa Fé?
 
Eu amo o Sul! É o lugar que mais gosto no Brasil! Queria ser gaúcha! Adoro cavalos, verde e fazendas. Além disso, as paisagens são deslumbrantes e as pessoas, diretas e fortes. Tenho muitos amigos gaúchos. Por isso, foi uma honra ajudar a contar essa história importantíssima tanto para o Sul quanto para o nosso país. E um prazer conhecer mais de perto essa cultura rica, que tanto me chamou atenção a vida toda. 



   

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